You get married with sbtoday and I'm finally waiting for

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Estud. afro-asiát. vol.24 no.2 Rio de Janeiro
http://dx.doi.org/10.-546X4
Casar ou N&o, Eis a Quest&o. Os Casais e as M&es Solteiras Escravas no Litoral Sul-Fluminense,
M&rcia Cristina de Vasconcellos
O presente artigo analisa os registros paroquiais de batismo e de casamento de escravos da freguesia de Nossa Senhora do Ros&rio de Mambucaba, em Angra dos Reis, no s&culo XIX, tendo como apoio os invent&rios post-mortem de propriet&rios escravistas. Verificamos os tipos de casamentos predominantes, se endog&micos por origem, africanos com africanos e crioulos com crioulos, ou mistos. Ao mesmo tempo, observamos em que medida as condi&&es advindas do fim efetivo do tr&fico externo de escravos, em 1850, as transforma&&es econ&micas e demogr&ficas presentes na segunda metade do oitocentos em Mambucaba influ&ram na ida de cativos & Igreja, a fim de sacramentar suas uni&es, e quem eram as m&es solteiras que viviam em Mambucaba.
Palavras-chave: fam&lias escravas, Mambucaba (RJ), Angra dos Reis, escravid&o, s&culo XIX.
Get Married or Not, That is the Question. The Couples and the Slave Single Mothers on the South of Rio de Janeiro Coast
This article analyzes the Nossa Senhora do Ros&rio de Mambucaba in Angra dos Reis City parish registers of baptisms and marriages, in the 19th century, which were supported by post-mortem inventories made byslave owners. We have checked the predominant kinds of marriages, if endogamy by origin, Africans to Africans, Creoles to Creoles, or mixed marriages. At the same time it is possible to observe how the end of the external slave trade in 1850 and the economical and demographic transformations during the second half of the 19th century influenced on the slaves' attendance in the Church to formalize their unions, and who were the single mothers.
Slave family, Mambucada (RJ), Angra dos Reis, slavery, 19th century
Se Marier ou ne pas se Marier, Voil& la Question. Les Couples et les M&res C&libataires Esclaves dans le Sud-Fluminense ()
Cet article analyse les registres paroissiaux de bapt&me et de mariage d'esclaves de la communaut& de Nossa Senhora do Ros&rio de Mambucaba, & Angra dos Reis, au XIX&me si&cle. Nous nous sommes appuy&s sur les inventaires post-mortem des propri&taires d'esclaves pour v&rifier les types de mariage pr&dominants: soit d'origine endog&ne, des Africains avec des Africains et des cr&oles avec des cr&oles, soit mixtes. Nous avons observ&, en m&me temps, dans quelle mesure les conditions issues de la fin effective du trafic &xterieur d'esclaves, en 1850, ainsi que les transformations &conomiques et d&mographiques pr&sentes & Mambucaba dans la deuxi&me moiti& du XIX&me si&cle ont permis que les esclaves aillent & l'&Eglise pour consacrer leurs unions et aussi d'identifier les m&res c&libataires qui y vivaient.
Mots-cl&s: des familles esclaves, Mambucaba (RJ), Angra dos Reis, XIX&me si&cle.
A escravid&o brasileira, uma pr&tica que perdurou por mais de trezentos anos, sempre despertou o interesse de estudiosos. Entre os trabalhos realizados at& a d&cada de 1970, a promiscuidade era reconhecida como presente no dia-a-dia do cativeiro, portanto, os casamentos entre escravos seriam pouco comuns. Aquela promiscuidade resultava ou do est&gio de desenvolvimento do negro (Rodrigues, 1988) ou do pr&prio sistema, por ter retirado o africano de seu ambiente social e familiar, colocando-o numa nova realidade hostil, junto a pessoas estranhas (Freyre, 1992), ou ainda porque as condi&&es do cativeiro eram adversas. Deve-se considerar, tamb&m, o desequil&brio entre os sexos, que decorria da prefer&ncia, pelo tr&fico atl&ntico, por homens que, teoricamente, seriam mais aptos desinteresse senhorial, j& que a exist&ncia de fam&lia poderia dificultar a e tamb&m dos pr&prios cativos, que procuravam evitar a procria&&o e, conseq&entemente, a escraviza&&o dos filhos (Gorender, 1992; Costa, 1998; Cardoso, 1962).
Essas teses come&aram a ser reavaliadas nos &ltimos vinte anos, quando, ent&o, os la&os familiares tornaram-se tema de pesquisas. Tal movimento inspirou-se em estudos norte-americanos e associou-se a uma reformula&&o da vis&o sobre o escravo, n&o como agente hist&rico somente na fuga, revolta ou roubo, mas no seu dia-a-dia, ao lado do alargamento de op&&es de fontes paroquiais (casamento e batismo), cartor&rias (invent&rios post-mortem), censos populacionais, processos criminais, entre outras, e releituras cr&ticas de relatos de viajantes e cronistas (Faria, 1997).
Os registros de casamento passaram a ser minuciosamente analisados, como, entre outros estudos, os de uma Par&quia em Vila Rica (MG), entre 1727 e 1826 (Luna & Costa, 1981), e os de treze localidades de S&o Paulo, nos anos de
e 1829 (Luna, 1990). As demais pesquisas realizadas, incluindo os invent&rios como fontes, trataram, dentre outras, de localidades como Para&ba do Sul (RJ), entre 1830 e 1872 (Fragoso & Florentino, 1987); o Nordeste colonial e a&ucareiro (Schwartz, 1995); Santana do Parna&ba (SP), entre fins do s&culo XVIII e princ&pios do seguinte (Metcalf, 1990); e Campinas (SP), no s&culo XIX (Slenes, 1987). Constatou-se que, em meio a dificuldades como a despropor&&o entre os sexos, com o predom&nio de homens, existiam espa&os menos adversos para a forma&&o de fam&lias legais e, conseq&entemente, para maior presen&a de crian&as leg&timas e de cativos casados e vi&vos, como, por exemplo, entre propriedades m&dias e grandes de Campinas (ibidem:218), de Bananal (SP), nos anos de
e 1829 (Motta, ) e de Lorena (SP), no ano de 1801 (Costa, Slenes & Schwartz, ).
Tais dados explicam-se com base na constata&&o de que, no Brasil, havia uma clara tend&ncia a casamentos &intra-propriedades& (Slenes, 1999; Motta, 1999; Metcalf, 1990; Schwartz, 1995), ou seja, em escravarias maiores, maiores seriam as chances de localizar poss&veis parceiros (Slenes, 1987). O contr&rio tamb&m era verdade: quanto menor a propriedade, maior a freq&&ncia de m&es solteiras, logo, de crian&as &naturais&. Essas caracter&sticas foram confirmadas em estudo sobre Campos dos Goitacazes, no Norte fluminense, nos s&culos XVII e XVIII, quando se verificou que &eram os tipos de produ&&o, as localiza&&es das &reas, o tamanho das unidades produtivas e o per&odo que, dependendo de determinadas combina&&es, influ&am nas possibilidades de casamento dos escravos& (Faria, ). Por exemplo, &reas com ilegitimidade superior a 66% eram aquelas pr&ximas a &portos recebedores de africanos, e de bispados& (ibidem:323), pois a proximidade do bispado levaria & maior interfer&ncia da Igreja nas rela&&es entre senhores e escravos, podendo aumentar o controle sobre a venda, separadamente, de escravos casados, pr&tica censurada pela Igreja.
Portanto, os estudos reconhecem o casamento religioso como recurso presente para uma parcela da popula&&o escrava, embora tamb&m considerem como fam&lias as unidades constitu&das por m&es solteiras. Por&m, existem controv&rsias no que diz respeito, por exemplo, ao significado daquela institui&&o. Para Florentino & G&es, a intensa chegada de africanos, considerados como estrangeiros, criava um campo de conflito, contornado mediante a cria&&o de la&os familiares, quando o desconhecido tornava-se conhecido e, portanto, fundando a paz. Desta forma, as fam&lias acabavam por auxiliar na reprodu&&o do sistema escravista, tendo um papel estrutural (Florentino & G&es, 1997). Perspectiva criticada por Slenes, que acreditava que a fam&lia, embora respondesse a uma estrat&gia senhorial de forma&&o de ref&ns, tanto dos anseios dos escravos quanto dos propriet&rios, apresentou-se como espa&o em que experi&ncias e mem&rias eram transmitidas e como possibilidade de escravos obterem o m&nimo de autonomia, possuindo uma fun&&o &desestabilizadora& (Slenes, 1999). Ao contr&rio de estar relacionada & viv&ncia do cativeiro, Castro considerava que, & medida que favorecia a obten&&o de ro&as e moradias separadas, os escravos envoltos em la&os familiares adquiriam certo destaque junto & escravaria e acabavam vivenciando uma aproxima&&o com o mundo dos livres (Castro, 1995).
Frente ao atual est&gio das pesquisas sobre o tema, faz-se necess&rio conhecer como os cativos que viviam em diferentes realidades se comportavam diante do casamento, e quais as mulheres que, por op&&o ou n&o, se encontravam exclu&das da oficializa&&o de suas uni&es. Em rela&&o aos escravos, o que teria significado o casamento? Existiriam crit&rios na escolha de companheiros? At& que ponto haveria uma interven&&o, por parte dos senhores, nos casamentos de seus escravos? Em que medida o contexto da segunda metade do s&culo XIX atingiu os matrim&nios sancionados pela norma em Mambucaba? Estas s&o algumas das quest&es tratadas a seguir.
A popula&&o mambucabense e de todo o litoral sul-fluminense, quando do in&cio da &febre cafeeira&, seguiu a tend&ncia, comum &s outras partes, de plantar caf&. Sobre isso, Castro verificou que, com a expans&o e a qualidade advinda do cultivo em &reas serranas, o caf& plantado em Capivari (atual Silva Jardim, RJ) foi prejudicado pela temperatura e umidade elevadas, pois &comprometia a qualidade da produ&&o cafeeira local que pouco a pouco se voltava para o mercado interno& (Castro, 1987).
Por certo, a produ&&o cafeeira de Mambucaba seguia essa caracter&stica. Da mesma forma, a produ&&o de alimentos, como feij&o, arroz, e a atividade pesqueira eram direcionadas para autoconsumo, sendo o excedente vendido na localidade. Outras propriedades, definidas como voltadas para a agricultura comercial, especializaram-se no abastecimento do mercado interno. Se o caf& local era de qualidade duvidosa, o produzido no Vale do Para&ba, principalmente o paulista, tinha como um dos p&los de escoamento, rumo ao Rio de Janeiro, o porto localizado na Freguesia, o que dinamizava a vida econ&mica local por meio do emprego de indiv&duos da comunidade e da venda de excedentes &queles que subiam e desciam a serra.
Sobre os caminhos ligando Mambucaba ao interior, contamos com as observa&&es feitas por Zaluar, que, entre 1860 e 1861, visitou o Vale do Para&ba. No caso de Barreiro, &para transportar os seus produtos a Mambucaba, que & o porto mais pr&ximo, mant&m caminhos que confluem de diversos pontos do munic&pio &s estradas Ces&rea e de Areias a Mambucaba& (Zaluar, 1975:54). O viajante citou, tamb&m, as vias de comunica&&o entre Areias e Mambucaba, &as estradas mais importantes do munic&pio s&o a Estrada Geral de S&o Paulo e a chamada Ces&rea, que comunica esta localidade com o porto de Mambucaba, e por onde se faz a importa&&o dos produtos comerciais e agr&colas& (ibidem:55-60). Da mesma forma, Mambucaba mantinha comunica&&es com Lorena e Silveiras (ibidem, p. 76).
O porto de Mambucaba vinha se destacando desde 1830, entre aqueles localizados no munic&pio de Angra dos Reis, e chegou a ser considerado o segundo em import&ncia ap&s o do centro de Angra (Mendes, ). Em 1847, Mambucaba possu&a seis armaz&ns de caf& e, em 1850, j& eram oito, de um total de 25 em todo o munic&pio, doze na Freguesia da Concei&&o de Angra dos Reis e cinco na freguesia da Ribeira (Ipanema & Ipanema, , 1992).
Para a verifica&&o do movimento portu&rio de Mambucaba, contamos com o mapa do arrolamento feito pela Coletoria de Angra dos Reis, contendo informa&&es da origem dos caf&s, nome dos seus donos, prov&ncias de proced&ncia e as arrobas embarcadas nos portos de Mambucaba, Jerumerim, Arir& e Itanema. Mediante a contagem das cargas que chegavam ao litoral, v&-se que grande parte do caf& transportado pelo porto mambucabense provinha de S&o Paulo. Para o geral das prov&ncias de Rio de Janeiro, de S&o Paulo e de Minas Gerais, Mambucaba foi o segundo porto em ordem de embarques, ap&s o de Jerumerim (Pereira, ).
Em 1864, as linhas da Estrada de Ferro D. Pedro II chegaram a Barra do Pira&, em 1871 a Barra Mansa e, em 1877 a Queluz (El-Kareh, 1982). Analisando as entradas no porto do Rio de Janeiro de embarca&&es provenientes do litoral sul-fluminense, vemos que, at& 1860, houve um aumento do movimento portu&rio local: de
para , de mais de 72 entradas, do &ltimo subper&odo para , de 78. A partir de 1860, observamos uma queda de 272.
A produ&&o cafeeira, que at& ent&o era escoada, entre outros, por aqueles portos, passou, gradativamente, a ser conduzida pelo transporte moderno, mais r&pido e seguro. Ao lado disso, com o fim efetivo do tr&fico externo de escravos, em 1850, e, grosso modo, com o encarecimento da m&o-de-obra escrava, os pequenos produtores escravistas tiveram maior dificuldade de obten&&o de cativos, sendo que muitos acabaram vendendo seus escravos para o tr&fico interno, gerando &um recrudescimento do n&mero de brancos empobrecidos, nas diversas situa&&es rurais, locais e regionais& (Castro, ). A jun&&o desses elementos conduziu a regi&o ao processo gradual e lento de crise, que s& come&aria a ser revertido a partir da d&cada de 1920 (Capaz, ). Como ilustra&&o, podemos citar que, a partir de 1870, &em Angra dos Reis, os casar&es assobradados, que tinham dep&sitos de caf& na parte t&rrea, foram sendo abandonados e come&aram a ruir& (ibidem:202). Mesmo destino tiveram as estradas que conduziam as produ&&es at& o litoral, como as de Arir&, de Mambucaba e de Parati, que foram se arruinando pelo mau estado de conserva&&o (ibidem:203).
A popula&&o livre, que havia aumentado em 4.550 indiv&duos, passando de 12.050 para 16.600, entre 1840 e 1856, elevou-se em apenas 689 pessoas, entre 1856 e 1872, chegando a 17.289. Ou seja, a altera&&o no quadro econ&mico local, iniciado no contexto da segunda metade do oitocentos, veio desestimular a ida de forasteiros & regi&o, situa&&o n&o verificada at& 1856. Ao mesmo tempo, o n&mero de escravos decresceu, correspondendo, entre 1840 e 1856, a menos 893 indiv&duos, passando de 10.552 para 9.659, e entre o &ltimo ano e 1872, de menos 5.115, chegando a 4.544. A diminui&&o do movimento portu&rio e o fim efetivo do tr&fico de escravos criaram, cada vez mais, condi&&es adversas aos livres, que n&o conseguiam repor sua m&o-de-obra quer via tr&fico interno, quer via nascimentos. Muitos deveriam estar vendendo seus cativos, em momentos de expans&o do pre&o dos escravos, &s &reas de ponta na economia imperial, tentando, assim, amenizar os impactos de um processo de empobrecimento a que muitos estavam vulner&veis. Outros poss&veis destinos aos cativos desaparecidos poderia ter sido a alforria, a fuga ou a morte.
Ao lado disso, via-se uma diminui&&o da parcela de africanos entre a escravaria mambucabense: se em 1856 havia 45,4% de africanos contra 54,6% de crioulos, em 1872, os crioulos chegaram a 83,2% contra 16,8% de africanos. A representatividade de escravos nascidos no Brasil, na d&cada de 1870, foi comum &s outras &reas estudadas, e n&o seria de esperar o contr&rio, pois j& se haviam passado vinte anos do fim efetivo do tr&fico externo e, portanto, de suspens&o da entrada de africanos no Brasil. Mag&, por exemplo, possu&a uma popula&&o crioula maior que a de Mambucaba: eram 89,08% de cativos desta origem (Sampaio, ).
Por&m, os dados acima n&o informam as faixas et&rias dos cativos, o que deveria incluir, portanto, crian&as, adultos e idosos. Podemos verificar o percentual de adultos existentes na freguesia entre 1830 e 1881 por interm&dio da contagem de 1.517 registros de batismo e de 96 de casamento, ambos realizados entre 1830 e 1871, e de 19 invent&rios post-mortem de propriet&rios de escravos de Mambucaba, abertos entre 1840 e 1881. Para isso, os escravos foram agrupados de acordo com o nome de seus propriet&rios, que totalizaram 251.
Para a organiza&&o das escravarias, estipulamos alguns crit&rios: existiram propriet&rios que, mediante uma anota&&o do vig&rio ou cita&&o em invent&rio, constatamos tratar-se de marido e mulher. Neste caso, optamos pela uni&o das escravarias por corresponder, na pr&tica, & mesma propriedade. Esse foi o caso, por exemplo, de Jos& Jord&o da Silva Vargas e sua esposa Dona Ant&nia Luiza de Magalh&es. Ocorreram casos de, uma vez falecido o propriet&rio, a sua vi&va ter passado a ser citada nas fontes, casos em que procedemos da mesma forma. Isto se deu, por exemplo, com a morte de Jos& da Silva Guimar&es, quando cativos com o mesmo nome e com padr&o semelhante de compadrio passaram a ser anotados como escravos de Vi&va Guimar&es e Filhos. Ainda surgiram outros problemas, como a cita&&o ao nome de um determinado propriet&rio de diferentes formas, como o caso de Manoel Jord&o da Silva Vargas, que apareceu ora como Manoel Jord&o e, outras vezes, como Manoel Jord&o Vargas. Somente conclu&mos tratar-se da mesma pessoa ap&s o cruzamento dos nomes dos cativos que compareceram &s cerim&nias, principalmente, os registros de batismo, grande parte das fontes de que dispomos.
Feito isso, come&amos a rastrear por propriet&rios os escravos com nomes semelhantes, cruzamos suas origens e demos um n&mero para cada cativo. Ocorreram, diversas vezes, casos de escravos com origem indicada num registro e n&o nestas vezes, verificamos se se tra no caso das m&es, observamos se a diferen&a entre um filho nascido e batizado e outro era acima de um ano, quando consideramos como a mesma pessoa. No caso de adultos, quando apareciam como padrinhos, somente consideramos a mesma pessoa quando havia sido batizado anteriormente.
Enfim, todo esse trabalho nos garantiu diminuir o &ndice de erro, embora sempre presente, de contar mais de uma vez a mesma pessoa e de considerar a mesma pessoa quando eram escravos com mesmo nome, mas indiv&duos diferentes.
Posteriormente, contamos todos os adultos, aqueles entre 14 e 40 anos, e os idosos, com mais de 41 anos, cuja origem pudemos identificar. Foram levados em conta batizandos, pais, padrinhos, madrinhas, noivos e aqueles que apareceram somente nos invent&rios, ficando de fora 204 homens e 206 mulheres sem defini&&o de origem.
Chegamos a 801 (58,8%) escravos vindos do outro lado do Atl&ntico, dos quais 353 eram homens e 448 mulheres, enquanto 563 (41,2%) eram cativos nascidos no Brasil, divididos entre 190 homens e 371 mulheres.
Trata-se de uma amostragem que, por certo, deixa muitos outros escravos de fora, principalmente aqueles que n&o compareceram a nenhuma das cerim&nias religiosas. Mas indica a parcela daqueles que estavam comparecendo & Igreja, um percentual maior de escravos oriundos do outro lado do Atl&ntico.
Dentro desse contexto de transforma&&o no panorama econ&mico local e demogr&fico, perguntamos: quais os tipos de casamentos predominantes, endog&micos por origem e mistos e como se comportaram ao longo dos anos, ou seja, at& que ponto condi&&es adversas vividas pela popula&&o livre influiu na ida de cativos & Igreja a fim de sacramentar suas uni&es? Quem eram as m&es solteiras que viviam em Mambucaba? A fim de responder &s quest&es formuladas, trabalhamos com as informa&&es relativas, primeiro, a todo o per&odo compreendido pelos registros de casamento, , e, em seguida, comparamos as varia&&es nos subper&odos
e , para, assim, verificar as poss&veis altera&&es de acordo com os contextos. Quando inclu&mos na an&lise os invent&rios, os anos em estudo foram ampliados para mais dez, chegando a 1881.
Dos dezenove invent&rios trabalhados, a fam&lia escrava, formada por pais e filhos, esteve presente em dezesseis processos, havendo, no total, 51 (80,9%) fam&lias matrifocais, as &nicas entre propriedades com um a tr&s escravos e quatro a quatorze cativos com, respectivamente, uma e sete fam&lias desse tipo. Entre as maiores, aquelas com quinze ou mais escravos, localizamos 43 (78,2%) constitu&das apenas pela m&e e seus filhos e doze (21,8%) por casais com ou sem filhos. Todas essas fam&lias congregavam 184 (41,2%) pessoas avaliadas. Cruzando batismos e invent&rios, encontramos quatro fam&lias chamadas fraternas, envolvendo irm&os, totalizando mais doze pessoas e duas fam&lias tendo & frente pais vi&vos, um homem e uma mulher, ambos com um filho cada, o que elevava o n&mero de cativos que n&o se encontravam sozinhos para 200, um percentual de 44,3% de indiv&duos num universo de 451 escravos avaliados.
A organiza&&o familiar estava presente para quase metade dos cativos, que buscavam a socializa&&o, a cria&&o de redes de conhecimento e de aux&lio e que tentavam, em meio ao sistema de domina&&o senhorial, buscar formas de melhor levar a vida. Ao mesmo tempo, o percentual de 44,3% representa parte do contingente aparentado, pois, possivelmente, existiam tios, av&s, al&m de compadres e comadres, todos esses despercebidos pelos invent&rios, fonte que, tradicionalmente, indica apenas os pais e filhos.
No livro de casamento de escravos da freguesia de Mambucaba encontramos 65 registros de matrim&nios realizados entre 1830 e 1871. Desses, dezesseis foram casamentos coletivos, nos quais se anotou num &nico registro mais de um casal, totalizando 96, distribu&dos em 37 nos anos de , 36 entre , 19 presentes entre
e quatro entre .
Esses matrim&nios envolviam escravos de um mesmo propriet&rio, o que confirma, tamb&m para Mambucaba, que a escolha de um c&njuge por parte do cativo tinha restri&&es impostas pelos limites da propriedade, tal como foram apontados por Faria () e Slenes, que diz: &Os senhores de escravos em Campinas praticamente proibiam o casamento formal entre escravos de donos diferentes& (Slenes, 1999:79).
Os escravos deveriam, em tese, escolher seus parceiros de vida entre a oferta existente na propriedade na qual viviam, o que, no caso de pequenas escravarias, poderia ser dificultado, ao contr&rio das maiores. Isso significa dizer que, nas maiores propriedades, maiores seriam as chances de contrair matrim&nio, constatado por Slenes para Campinas no s&culo XIX: &26% das mulheres acima de 15 anos s&o casadas ou vi&vas nos plant&is pequenos, e 67% nos m&dios e grandes& (Slenes, ).
Os invent&rios trabalhados apontam nesse mesmo sentido, j& que encontramos fam&lias nucleares exclusivamente entre as escravarias com quinze ou mais escravos, tipo de propriedade em que localizamos tamb&m os dois casos de vi&vos com filhos j& citados.
Portanto, os cativos que viviam e trabalhavam em terras mambucabenses, quando encontravam um poss&vel parceiro para a vida, e estes eram de outros senhores, acabavam estabelecendo rela&&es diferentes do casamento sancionado pela Igreja, situa&&o que diminu&a quando compartilhavam, al&m do destino de escravos, a mesma propriedade. Os casamentos entre escravos de diferentes propriedades, inexistentes na freguesia em estudo, deveriam criar situa&&es que trariam &dor de cabe&a& para os senhores envolvidos, como quando do nascimento dos filhos ou at& reivindica&&es de maridos e esposas, desejosos por morar ao lado de seus parceiros, em uma das propriedades. Mas, se as interven&&es senhoriais se alastrariam a outros aspectos do casamento, como definir com quem um cativo deveria se casar?
Embora fosse prov&vel que alguns dos casamentos realizados resultassem de indica&&es dos propriet&rios, considerar que todos os matrim&nios representariam uma imposi&&o senhorial seria pensar nos cativos tal como &seres manipulados&, quando sabemos que se tratava de homens e mulheres atuantes em suas vidas, negociando concess&es com seus propriet&rios, assim como respondiam & importante estrat&gia de controle, evitando, inclusive, uma poss&vel fuga do cativo. Existiam, dentro dos limites impostos a seres escravizados, momentos de relativa manifesta&&o de suas vontades, como na introdu&&o de algumas prefer&ncias na hora da escolha do c&njuge: o casamento endog&mico foi uma delas.
Entre 1830 e 1871, casaram-se 48 africanos entre si, correspondendo a 61,5% das uni& os crioulos, entre si, uniram-se dezoito vezes ou 23,1%, fazendo com que os casamentos endog&micos por origem chegassem a 66 (84,6%) contra doze (15,4%) mistos, divididos entre sete (8,9%) casais, nos quais as mulheres eram africanas e seus noivos crioulos e cinco (6,4%) mulheres crioulas com noivos africanos.
Para a elabora&&o do c&lculo, foram levados em conta os registros que tiveram indica&&o de origem dos noivos e aqueles cujas origens, mesmo sem a refer&ncia, foi poss&vel localizar mediante o cruzamento com registros de batismo e invent&rios, ficando dezoito de fora da contagem, que n&o conseguimos rastrear.
Havia uma preocupa&&o dos c&njuges em criar la&os com outros de mesma origem, pois 84,6% das uni&es eram endog&micas contra 15,4% mistas. Vemos uma predisposi&&o & escolha a partir da origem, determinando um poss&vel parceiro em detrimento de outro.
Se observarmos os casais que n&o passaram pelo casamento entre os anos demarcados, mas que haviam conduzido seus filhos ao batismo ou foram avaliados em invent&rios, constatamos semelhan&as em rela&&o ao comportamento acima apresentado. Foram 42 (57,5%) casais africanos, dez (13,7%) casais envolvendo c&njuges crioulos, correspondendo ambos a 52 (71,2%) de uni&es endog&micas. Em contraposi&&o, 21 (28,8%) uni&es eram mistas, distribu&das em oito casais (11,0%) de mulheres africanas e homens crioulos e treze (17,8%) de mulheres crioulas casadas com homens africanos. Aqui, a endogamia continua sendo a principal caracter&stica quanto & origem dos casais, embora sofra uma queda de 13,4% na compara&&o com os registros de casamentos entre 1830 e 1871. De fato, as origens eram fatores de aproxima&&o entre os escravos de Mambucaba. Por&m, entre os c&njuges que haviam se casado antes de 1830 ou que teriam chegado & Freguesia nessa condi&&o, a segunda maior freq&&ncia de casais envolvia n&o homens e mulheres crioulos, tal como visto nos registros de casamento entre os anos de 1830 e 1871, mas mulheres crioulas e homens africanos, resultado, talvez, da falta de mulheres africanas para os homens africanos, ou de homens crioulos para as mulheres crioulas.
Retornemos aos registros de casamentos entre 1830 e 1871. O fato de, por exemplo, africanos recusarem o &outro&, no caso, os crioulos, conduz & percep&&o de identifica&&o entre eles. Sabemos que o ser africano foi uma constru&&o advinda da sociedade escravista do s&culo XIX, consolidando seu significado somente na segunda metade do s&culo, j& que eram de tantas e variadas etnias. Ser& que, ent&o, suas diferen&as &tnicas eram &superadas& pela caracteriza&&o deles, na regi&o, como &estrangeiros& em rela&&o aos crioulos?
O processo estaria associado &s possibilidades de localizar um parceiro dentro da propriedade em que viviam e trabalhavam. Os africanos, quando chegavam a Mambucaba, seriam &forasteiros&, sem la&os familiares, o que permitia, em tese, o matrim&nio com qualquer escravo da propriedade. Em tese, porque, dentro da oferta de noivos e noivas, tendiam a optar por outros africanos, dado explicado pelo n&mero predominante destes em idade apta ao casamento, al&m de se reconhecerem como &forasteiros&. Esse foi o caso verificado entre a escravaria de Joaquim Coelho dos Santos. Em 1838, Sabina, africana de Benguela, um ano depois foi a vez de Jos&, tamb&m africano, mas de Mo&ambique, com dezoito anos. No ano de 1842, casaram-se e batizaram seus filhos, Alexandre, em 1844, e Jo&o, em 1846.
Os crioulos, por sua vez, estariam limitados na escolha, pois encontrar-se-iam associados por outros la&os familiares com cativos da propriedade, o que impossi da& o estabelecimento de la&os para fora da propriedade, que, como vimos, n&o passava pelo casamento sancionado pela Igreja (Faria, ). Mas tamb&m deveriam reconhecer-se como &iguais& e, portanto, &diferentes& dos africanos.
Muitas foram as crioulas nessas condi&&es, e n&o foram poucas que assim permaneceram, solteiras. Citamos alguns casos: Fertuliana, escrava de Cust&dio Jos& da Silva e de sua esposa Rosa Maria, foi batizada em 1837 como filha &natural& de Vit&ria africana. Ela apareceu na mesma propriedade, j& com aproximadamente dezessete anos, batizando a filha tamb&m &natural& Sabina. Tratava-se de uma propriedade que contava, a levar em conta os registros paroquiais, com a sua fam&lia e outra constitu&da por c&njuges africanos casados por volta do ano de 1845. Ou seja, a propriedade n&o lhe dava possibilidades de unir-se a algu&m da pr&pria escravaria e, por isso, ela deve ter buscado um parceiro fora dos seus limites.
Na propriedade de Francisco Soares Ferreira, encontramos uma hist&ria semelhante. Catarina, africana de Angola, batizou sua filha &natural& Ant&nia, em 1849. Essa, em seus dezessete anos, apareceu como m&e solteira, batizando Vitalina, em 1864. Esta escravaria, assim como a primeira, n&o apresentava a Ant&nia muitas possibilidades de encontrar parceiro, pois, al&m de sua fam&lia, existia a de Gra&a, africana da Guin&, que batizou tr&s filhos, sendo que um destes, anos depois, veio a ser padrinho de escravos, e uma mulher de nome Maria, com origem desconhecida, mas todos envolvidos por la&os de compadrio.
O padr&o de endogamia n&o foi exclusivo de Mambucaba, alguns estudos sobre o tema tamb&m verificaram uma tend&ncia igual, embora variassem quanto &s explica&&es.
Entre 1734 e 1802, em Campos dos Goitacazes, dos 2.244 casamentos envolvendo escravos, 81% referiam-se a cativos africanos, dado que Faria associa ao predom&nio num&rico destes, &s facilidades na escolha de poss&veis parceiros, quase sempre africanos, dentro das propriedades e, inclusive, de mesma origem &tnica, e termina afirmando que: &os africanos, habilmente, utilizavam o c&digo social e ritual do homem branco para ter condi&&es de estabilizar sua organiza&&o familiar& (Faria, ). Em contrapartida, os crioulos tenderam a buscar parceiros fora da propriedade, porque estariam envoltos em la&os familiares e, quando apareciam nos registros, geralmente, seguiam a endogamia com base no crit&rio da cor.
Na busca de uma resposta para o mesmo padr&o de endogamia, por origem encontrada para o agro fluminense entre 1790 e 1830, Florentino & G&es recorreram a viajantes. Verificaram que o dia-a-dia entre africanos e crioulos n&o era dos melhores. Sobre isso, afirmava Jean Baptista Debret, na primeira metade do s&culo XIX, que &os negros no Brasil julgavam seus irm&os de sorte, os mulatos, como 'monstros', uma ra&a maldita& (Florentino & G&es, 1997:34). Esse &conflito& poderia estar associado & prefer&ncia dada pelos senhores por crioulos, mais do que africanos, no desempenho de atividades dom&sticas e qualificadas, e na concess&o de alforrias (Slenes, 1995:12). Da mesma forma que &a seletividade na escolha dos parceiros significava uma op&&o preferencial por iguais, isto &, exprimia um duplo e simult&neo movimento de constitui&&o e recusa do outro& (Florentino & G&es, 1997:35).
Em Campinas, embora com padr&es de casamentos mistos na ordem de 31,1%, em 1801, e 47,4% em , a endogamia foi verificada, ao passo que o percentual de crioulas casadas em rela&&o &s africanas demonstraria uma certa &intransig&ncia& no momento de escolha do c&njuge. Por&m Slenes relativiza a tend&ncia & endogamia, evitando associ&-la a poss&veis conflitos de origem, pois,
num contexto social que juntava, & for&a,
'estrangeiros', para, logo em seguida, come&ar a transform&-los em
'comunidade': isto &, numa agremia&&o imperfeita, crivada por competi&&es internas, como todas as
'comunidades' reais, mas nem por isso dividida em grupos de identidades fortemente opostas (Slenes, 1999:78).
Jos& Fl&vio Motta, em estudo sobre Bananal, certificou-se de que, em
e 1829, os africanos tenderam ao casamento endog&mico: em 1801, foram 69,1%; %; e % (Motta, ).
No que diz respeito aos &ndices de nupcialidade, incluindo a vari&vel idade e tamanho de propriedade, Slenes constatou que, em 1801 e 1819, homens crioulos apresentavam um &ndice maior que os africanos, enquanto, entre as mulheres, a tend&ncia seria para o predom&nio das africanas. Tais cifras tenderam a aumentar nas maiores propriedades (10 ou mais cativos) e entre os cativos acima dos 15 anos. Em 1801, eram 43,3% de homens crioulos casados ou vi&vos contra 26,5% de africanos, 52,8% de mulheres crioulas contra 79,8% de africanas. Em % de homens crioulos contra 23,9% de africanos, e, entre as mulheres, foram 61,5% de crioulas e 66,7% de africanas (Slenes, 1999:76).
Quando vemos os casais que apareceram em registros de batismo e invent&rios de Mambucaba e que, portanto, n&o se casaram entre 1830 e 1871, localizamos um predom&nio de africanos: os homens e mulheres africanas eram, respectivamente, 55 (70,5%) e 50 (79,4%) e os homens e mulheres crioulas chegaram a 23 (29,5%) e 13 (20,6%).
Entre aqueles que se casaram no per&odo pesquisado, as mulheres africanas somaram 55 (70,5%), os homens de igual origem foram 53 (67,9%), os homens e mulheres crioulos, respectivamente, chegaram a 25 (32,1%) e 23 (29,5%). O predom&nio de africanos na cerim&nia poderia indicar uma maior predisposi&&o ao casamento sancionado pela norma? Mas n&o seriam os crioulos, em tese, os maiores conhecedores da doutrina cat&lica e, portanto, mais receptivos ao casamento?
O predom&nio de africanos entre os que se casavam refletia, na verdade, a maior expressividade num&rica destes na faixa et&ria a partir dos 12 e 14 anos, idades m&nimas para contrair o matrim&nio. Quando contabilizamos todos os adultos que compareceram ao batismo, ao casamento ou os avaliados nos invent&rios, vimos um predom&nio num&rico de africanos, o que parece justificar o predom&nio dos &de na&&o& na cerim&nia. Assim como o casamento deveria representar, para esta parcela da popula&&o escrava, a possibilidade de ressocializa&&o e o caminho para a estabilidade, mais emergenciais do que para os crioulos, j& socializados e inseridos em redes familiares e de amizade. Por&m o perfil & datado, como veremos a seguir.
Passando & an&lise dos subper&odos de
e , observamos altera&&es a respeito dos perfis dos casais que legalizavam suas uni&es. No primeiro, antes do t&rmino definitivo do tr&fico externo e quando os portos estavam em fase din&mica, os africanos eram a maioria, seguidos pelos crioulos. Posteriormente, esse perfil tendeu a alterar-se, & medida que passava a segunda metade do s&culo e, portanto, de diminui&&o de africanos entre as escravarias. Sobre isso, os registros de casamento nos d&o algumas dicas.
Entre , os casamentos endog&micos entre africanos corresponderam a 42 (66,7%), os endog&micos entre crioulos foram 11 (17,5%), fazendo com que os endog&micos chegassem a 84,2% nesses anos, contra 10 (15,8%) mistos. Entre , os endog&micos entre africanos corresponderam a seis (40.0%), os endog&micos entre crioulos foram sete (46,7%), levando os endog&micos a 86,7%, contra dois (13,3%) mistos.
Em n&meros absolutos, os casamentos foram diminuindo, sendo que, no segundo subper&odo, mais precisamente, ap&s 1860, os africanos n&o compareceram mais & cerim&nia, tanto para casar com outros de mesma origem quanto com crioulos. Os crioulos, em contraposi&&o, continuaram a marcar presen&a mesmo ap&s a data.
O movimento de queda de uni&es endog&micas entre africanos, localizado entre 1830 e 1871, em Mambucaba, seguia a tend&ncia verificada desde 1810, no agro fluminense, por Florentino & G&es. A partir desse ano, segundo os autores, a entrada de africanos elevou-se intensamente e, ao contr&rio, os casamentos entre eles diminu&ram. A explica&&o para o comportamento seria a urg&ncia encontrada pelos africanos em socializar-se, &a urg&ncia escrava (e sistematicamente) de aparentar-se& (Florentino & G&es, 1997:44). Como resultado, aumentaram as freq&&ncias de fam&lias matrifocais (m&es e filhos) e, conseq&entemente, a ilegitimidade e o desgaste do projeto do casamento como &um poderoso agente no desbaste da profunda crosta de h&bitos e atitudes inadequadas ao vir a ser escravo& (ibidem:151), vis&vel pelos autores na fase de estabilidade do tr&fico, de .
Seria a imensa chegada de africanos a causa da diminui&&o de casamentos endog&micos verificada em Mambucaba? A regi&o vinha de fato recebendo tantos africanos a ponto de gerar a urg&ncia em aparentar-se? N&o contamos com os n&meros de entrada de africanos na freguesia, mas, sim, 156 registros de batismo de adultos dessa origem, demonstrando a chegada de &estrangeiros& entre 1830 e 1859. Esses registros, a levar-se em conta que, uma vez anotados no livro da freguesia, tratavam de rec&m-chegados, pois, ao contr&rio, j& seriam batizados em outras &reas, demonstram n&meros m&nimos, outros poderiam ter vindo, mas j& batizados nos portos africanos de embarque. Por exemplo, no caso dos cativos que embarcaram nos portos congo-angolanos, havia a tend&ncia a serem batiz pr&tica que n&o teria sido comum em rela&&o aos cativos embarcados da Costa da Mina (Soares, ).
Ou seja, existiriam propriedades que, dentro do contexto de t&rmino efetivo do tr&fico externo, em 1850, conduziram-se & obten&&o de cativos, mas n&o o suficiente para gerar um crescimento populacional, pois, como visto, houve uma diminui&&o de 0,2% entre 1840 e 1856, movimento que viria a agravar-se ap&s a segunda data.
Cremos que uma das explica&&es poss&veis viria pelo quadro demogr&fico que se desenhava na regi&o. O percentual da popula&&o africana decresceu de 45.4%, em 1856, para 16,8% em 1872, ou perda, fundamentado nos c&lculos sobre os n&meros absolutos, de menos 510 africanos ou 86,4%. Isso significa, indiretamente, que a escravaria estava vivendo um processo de criouliza&&o.
Ap&s 1860, como dito, os africanos desapareceram dos registros, possivelmente, porque n&o havia novos africanos, e aqueles que, em Mambucaba, estavam j& tinham se aparentado, via casamento legal ou por uni&es consensuais, e passaram a ser &substitu&dos& pelos crioulos. Isso explica tamb&m a diminui&&o de casamentos mistos.
As uni&es entre crioulos, embora tenham diminu&do em n&meros absolutos ap&s 1850, conheceram uma eleva&&o em percentuais, de 17,5% para 46,7%. Essa eleva&&o estaria associada & queda dos dois outros tipos de matrim&nios, enquanto que o decr&scimo de onze para sete cerim&nias ligar-se-ia & queda num&rica de escravos, verificada entre , de 63,3%, dos quais, 312 (44,0%) dos nascidos no Brasil desapareceram.
Por&m, o quadro demogr&fico seria uma das explica&&es poss&veis, a outra se ligaria a uma pol&tica senhorial no sentido de dificultar que seus cativos se unissem legalmente. Sheila de Castro Faria explica que esse movimento afetou diversas &reas a partir da d&cada de 1830, quando o risco de fim do tr&fico e o aumento do pre&o dos escravos teriam feito com que os senhores dificultassem a realiza&&o dos casamentos de seus escravos. Com isso, os propriet&rios ficariam livres de poss&veis interven&&es da Igreja, quando houvesse necessidade de venda de um dos c&njuges, pr&tica censurada pela institui&&o (Faria, ). Esse comportamento senhorial seria mais do que coerente numa realidade como a de Mambucaba, uma &rea que, no correr da segunda metade do s&culo, conheceu um quadro de transforma&&o econ&mica e um processo de empobrecimento dos homens livres, se levarmos em conta a presen&a dos invent&rios com bens seq&estrados em fun&&o de conterem d&vidas maiores que os montes.
Por meio dos n&meros absolutos dos casamentos para cada um dos subper&odos, verifica-se uma diminui&&o das cerim&nias ao longo do tempo. At& 1849, os casamentos somaram 73, enquanto, de 1850 em diante, n&o passaram de 23.
O aumento da ilegitimidade, ou, em outras palavras, a diminui&&o de casamentos, foi verificado ainda para &reas de grande lavoura, mais intenso na Prov&ncia do Rio de Janeiro do que na de S&o Paulo, mas presente em ambas. Entre 1872 e 1887, os escravos casados e vi&vos tenderam a diminuir em 51,5%, no Alto Para&ba, 59,4%, na regi&o do Para&ba do Sul, 81,8%, na regi&o do Cantagalo e, em 67,6%, na Comarca de Campos (Slenes, 1999:86).
A diminui&&o de casamentos & aqui entendida como uma diminui&&o de fam&lias organizadas em torno das nucleares (pai, m&e com ou sem filhos), mas que n&o gerou necessariamente a constitui&&o de cativos n&o aparentados. A modalidade, uni&es sancionadas pela Igreja, era uma das possibilidades de organiza&&o familiar, bem como as uni&es consensuais. Infelizmente, esse tipo de associa&&o n&o aparece em nossas fontes, pois eram produzidas pela Igreja, que n&o as reconhecia. Por&m, o sil&ncio sobre elas pode e ser& compensado pelas fam&lias matrifocais, caracterizadas pela presen&a da m&e e seus filhos, definidos nos registros de batismo como &naturais&. Essas fam&lias tanto devem esconder as tais uni&es consensuais quanto as fortuitas.
A redu&&o de casamentos e o n&mero crescente de crian&as ileg&timas batizadas na freguesia, entre 1830 e 1871, n&o podem ser compreendidos como um processo de promiscuidade. Eles estavam seguindo uma op&&o contr&ria & norma, mas n&o diferente & de grande parte da popula&&o livre da &poca. A amplia&&o da ilegitimidade aparece associada a outro movimento, a amplia&&o do compadrio envolvendo escravos, principalmente ap&s 1850. Num quadro de diminui&&o populacional e de diminui&&o de casamentos, em contrapartida, de aumento de uni&es que n&o passavam pela Igreja, as cerim&nias de batismo eram momentos em que as fam&lias buscavam contrair la&os de compadrio com compadres e comadres tamb&m cativos, conhecedores da vida levada em cativeiro, &irm&os& no destino.
Mesmo com o predom&nio de m&es africanas casadas, demonstra&&o de maior facilidade na localiza&&o de parceiros dentro da propriedade em que viviam e trabalhavam, muitas acabaram procriando ilegitimamente, assim como as crioulas.
Foram anotadas, uma &nica vez, as m&es com filhos &naturais&, que apareceram nos registros de batismo, e as mulheres com filhos, quase todos pequenos e possivelmente pag&os, nos invent&rios.
Pelos dados obtidos, muitas mulheres africanas tamb&m ficaram de fora do casamento, 257 ou 49,2%, embora predominassem ligeiramente as crioulas, pois eram 265 ou 50,8% solteiras. Casar estava se tornando uma op&&o cada vez mais rara, por&m mais dif&cil era para as crioulas, principalmente, por maiores dificuldades na obten&&o de companheiros nos limi ao contr&rio, para as africanas, tal como vimos, havia maiores possibilidades de contrair matrim&nio, mesmo depois de parir um filho ilegitimamente.
Algumas dessas mulheres, ap&s gerar filhos &naturais&, acabaram se casando. Nesse caso, inclu&am-se 16 mulheres africanas, que se associaram a 14 homens de mesma origem, um homem crioulo e um de origem desconhecida. Das nascidas no Brasil, seis uniram-se a quatro homens tamb&m crioulos e dois africanos. Com exce&&o de uma cerim&nia, todas se deram antes de 1849, anos em que o casamento era menos dificultoso.
Geralmente, essas mulheres, africanas e crioulas, tenderam a gerar apenas um filho ileg&timo antes do casamento, situa&&o vivida por 19, em contraposi&&o a duas, que tiveram dois, e uma com tr&s crian&as.
Jos& Joaquim de Siqueira Pinto viu, entre seus cativos, casos de procria&&o antecedendo o casamento. Isabel, crioula, batizou tr&s filhos &naturais&. No ano de 1848, casou-se com Jos& africano e batizaram mais seis filhos.
O caso ocorrido na propriedade de Ant&nio Jord&o da Silva Vargas tamb&m merece ser citado. Madalena, africana, batizada como adulta em 1849, teve sua filha &natural& Rita levada & pia batismal em 1857, e falecida no ano seguinte. No ano de 1859, Madalena compareceu novamente & Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ros&rio para casar-se com Calisto, tamb&m africano e batizado, coincidentemente, no mesmo ano que sua c&njuge, em 1849. Alguns anos depois, em 1860, ambos batizaram dois filhos, Faustino e Fabiano, g&meos, e, cinco anos depois, foi a vez da crian&a Romana.
Esse & um t&pico caso de fam&lia escrava tendo & frente um casal de mesma origem, em que, antes do matrim&nio, a mulher pariu um filho ilegitimamente. Este poderia ser fruto da uni&o, na &poca ilegal, entre ela e o escravo que, posteriormente, viria a ser seu marido. Ambos chegaram na mesma &poca & propriedade como &estrangeiros& e, talvez, por essa associa&&o, aproximaram-se. Seus filhos, tanto a &natural& quanto os leg&timos, foram batizados, respectivamente, por um escravo e uma escrava da propriedade, um escravo de propriedade diferente, um escravo da propriedade e outro de propriedade de um parente de Ant&nio Jord&o da Silva Vargas, Jos& Jord&o da Silva Vargas e sua esposa Dona Ant&nia Lu&za de Magalh&es. Al&m de assumirem la&os matrimoniais na propriedade, Madalena e Calisto usaram do compadrio, um meio de associarem-se a outros escravos, aumentando, assim, o raio de a&&o de sua fam&lia nuclear.
Caso semelhante ao de Lu&za, crioula, escrava de Bernardo Soares Ferreira. A escrava batizou sua filha Felisbina em 22 de junho de 1834 e, no mesmo ano, uniu-se em matrim&nio com Jacinto crioulo, em 26 de outubro. Posteriormente, em 1838, batizaram Martinho. A primeira filha recebeu como padrinho Ant&nio Jos& During, propriet&rio de escravos, e Delfina Maria, livre, enquanto o filho leg&timo recebeu como padrinhos e madrinhas Rufino e Joaquina, escravos de Manoel da Costa Lima. Esse perfil de compadrio, variando quanto a filho ileg&timo e leg&timo, n&o foi exclusivo deles, a tend&ncia a padrinhos livres entre as crian&as ileg&timas foi comum, enquanto que para as leg&timas predominaram, particularmente entre as madrinhas, aquelas tamb&m escravas.
Portanto, a ilegitimidade poderia n&o somente representar uni&es fortuitas, mas uni&es que s& dependiam da boa vontade senhorial p outras, envolvendo escravos de diferentes propriedades, estavam fadadas a manterem-se consensuais.
Concluindo, os escravos de Mambucaba, ao se casarem, buscavam c&njuges de mesma origem. Os africanos, &estrangeiros&, uma vez que chegavam sem la&os de amizade e familiar ligavam-se a outros tamb&m identificados na regi&o como &estranhos&, afinados por aus&ncia de conhecimentos. Eles possu&am maiores possibilidades de localizar, dentro da propriedade a que a sorte os &jogou&, futuros c& primeiro porque, eram em n&mero representativo, e, segundo, porque n&o tinham la&os familiares estabelecidos, o que, a princ&pio, viabilizava o casamento com qualquer um da propriedade. Os crioulos, por sua vez, tamb&m casavam entre si. Estes acabavam sendo menos presentes nas cerim&nias, pois tinham maiores dificuldades em localizar parceiros nas propriedades em que viviam, conseq&entemente, buscavam companheiros para al&m dos limites das propriedades. Como o casamento inter-propriedades era evitado pelos senhores de escravos, os crioulos tenderam a estabelecer uni&es consensuais.
Para os africanos, &estranhos&, o matrim&nio significava um dos caminhos para a ressocializa&&o e oferecia aos envolvidos vantagens emocionais. Mas existiam outros caminhos para a socializa&&o, como as uni&es consensuais, amizades que iam sendo estabelecidas no decorrer do dia-a-dia e pelos la&os de compadrio, que adquiriam, quer seja como pais de batizandos, quer seja como padrinhos. Com isso, o &estranho&, gradativamente, tornava-se &conhecido&. Para os crioulos, o casamento geraria a amplia&&o e confirma&&o de la&os estabelecidos, poss&veis tamb&m mediante uni&es n&o reconhecidas pela Igreja e o compadrio. Para ambos, a fam&lia seria um lugar de cria&&o e preserva&&o de espa&os de resist&ncias dentro da sociedade escravista, espa&o em que experi&ncias foram passadas aos descendentes, e na elabora&&o de um universo pr&prio a eles.
Para os senhores, representaria um caminho a fim de viverem &melhor& a escravid&o. Por&m, dentro desse projeto, estavam excluindo, gradativamente, o casamento sancionado pela Igreja, no decorrer do s&culo XIX, garantindo a possibilidade de venda de suas escravarias, caso houvesse necessidade. Esse tipo de comportamento era coerente no caso de realidades como a de Mambucaba, onde o contexto da segunda metade do s&culo gerou maiores dificuldades para os homens livres, constatadas pelos casos de endividamento. Os escravos, por sua vez, respondiam a essa dificuldade, estabelecendo fam&lias matrifocais, elevando a ilegitimidade e fazendo do nascimento de filhos um caminho para efetiva&&o de la&os de compadrio tendentes a serem estabelecidos com outros escravos, especialmente, no caso das madrinhas.
. A Freguesia de Nossa Senhora do Ros&rio de Mambucaba, criada em 1808, em territ&rio do atual munic&pio de Angra dos Reis, era fronteiri&a a Parati. Em seu territ&rio, est&o, hoje, a Vila Hist&rica de Mambucaba e as Usinas Nucleares de Angra dos Reis.
. Tais livros apresentam as informa&&es contidas no Almanaque Laemmert para Angra dos Reis entre os anos de 1844 e 1850.
. Somando as embarca&&es que chegaram ao Rio de Janeiro provenientes do litoral sul-fluminense, ou seja, dos portos localizados em Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati, constatamos: entre , foram 655 entradas, sendo que 74,5% transportavam caf&; entre , somaram 727, sendo 94,5% com carregamento de caf&; entre , foram 805, dos quais 94,8% com a rubi& e entre , 533 entradas com 82,6% de caf&. Dados extra&dos do Jornal do Com&rcio, dos meses de mar&o e outubro de 1828 a 1871. Se&&o de Peri&dicos da Biblioteca Nacional, RJ. Para mais, ver Vasconcellos, ().
. Quadro Estat&stico da popula&&o da prov&ncia do Rio de Janeiro, segundo as condi&&es, sexos e cores-1840, extra&do do Relat&rio de Presidente de Prov&ncia do Rio de Janeiro de 1840 e 1841; Recenseamento da popula&&o livre e escrava da Prov&ncia do Rio de Janeiro em 1856, presente no Relat&rio de Presidente de Prov&ncia de 1858. Se&&o de Peri&dicos da Biblioteca Nacional, RJ. Recenseamento Geral do Brasil, 1872. Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&stica (IBGE), RJ.
. Tal movimento foi comum a outras regi&es da Prov&ncia do Rio de Janeiro: Capivary possu&a 5.999 escravos em 1856, enquanto em 1872 eram 3.903 (Castro, 1987:39). Assim como em algumas das freguesias do munic&pio de Mag&, no RJ, como Piedade e Suru&, que chegaram a 20% de escravos em 1872. Outras conheceram uma amplia&&o populacional como a freguesia de Guapimirim, tamb&m em Mag& (Sampaio, ).
. Por meio da an&lise de 19 invent&rios de propriet&rios de escravos de Mambucaba, verificamos que 60,0% de propriet&rios com at& 3 escravos tinham d&vidas superiores aos montes brutos e 22,2% daqueles com 15 ou mais cativos. Invent&rios post-mortem de propriet&rios de escravos de Mambucaba, 1840 a 1881. Arquivo Nacional e Museu da Justi&a do Rio de Janeiro.
. Recenseamento da popula&&o escrava da Prov&ncia do Rio de Janeiro em 1856, presente no Relat&rio de Presidente de Prov&ncia de 1858. Se&&o de Peri&dicos da Biblioteca Nacional, RJ. Recenseamento Geral do Brasil, 1872. Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&stica (IBGE), RJ.
. Foram 215 propriet&rios que enviaram escravos batizandos e noivos, e 36 que ofereceram exclusivamente padrinhos e madrinhas para o batismo.
. A passagem pelo ritual do batismo era uma das condi&&es exigidas para os indiv&duos convidados tornarem-se padrinhos ou madrinhas. Os procedimentos e crit&rios adotados foram inspirados no trabalho de G&es, 1993.
. Baseamo-nos nas idades estipuladas por Florentino & G&es (1997:66).
. Isso porque contamos com maior n&mero de registros paroquiais. Os invent&rios, como dissemos, s&o somente 19, num total de 215 propriet&rios identificados.
. Casamentos endog&micos por origem envolviam ambos os noivos africanos ou ambos crioulos e os mistos, noivos africanos e crioulas ou vice-versa.
. Livro de Casamentos de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo de Angra dos Reis, RJ.
. Invent&rios post-mortem de propriet&rios escravistas de Mambucaba. Museu da Justi&a do Rio de Janeiro e Arquivo Nacional. Trata-se de senhores localizados nos registros paroquiais de casamento e que possu&am propriedades ou viviam na freguesia.
. Chamamos de fam&lias matrifocais aquelas constitu&das por m&es solteiras e seus filhos e as fam&lias nucleares as que contavam com casais unidos junto a Igreja, com ou sem filhos.
. Optamos pela divis&o de escravarias a partir da premissa de que, a fim de analisar Mambucaba, n&o seria pertinente dividir por faixas de tamanho de propriedades pelos n&meros definidos geralmente, quando se estudam &reas de &plantations escravista&. Baseamo-nos nas afirma&&es e na organiza&&o efetivada por Castro ().
. Para saber sobre fam&lias extensas e compadrio em Mambucaba, cf.Vasconcellos (2001).
. Acreditamos que, se houvessem casado, ap&s 1830, em Mambucaba, seus registros estariam presentes no livro consultado. Outra possibilidade seria a da chegada do casal na regi&o j& unidos segundo os preceitos da Igreja Cat&lica.
. Livros de Casamento e de Batismo de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo, Angra dos Reis, RJ.
. Ao menos nos anos de estudo da pesquisa, pois n&o as localizamos em nenhum dos registros de casamento dispon&veis.
. Livros de Casamento e de Batismo de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo, Angra dos Reis, RJ.
. Livros de Casamento e de Batismo de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo, Angra dos Reis, RJ.
. Quadro Estat&stico da popula&&o da prov&ncia do Rio de Janeiro, segundo as condi&&es, sexos e cores-1840, extra&do do Relat&rio de Presidente de Prov&ncia do Rio de Janeiro de 1840 e 1841 e Recenseamento da popula&&o escrava da Prov&ncia do Rio de Janeiro, em 1856, presente no Relat&rio de Presidente de Prov&ncia de 1858. Se&&o de Peri&dicos da Biblioteca Nacional, RJ.
. Recenseamento da popula&&o escrava da Prov&ncia do Rio de Janeiro em 1856, presente no Relat&rio de Presidente de Prov&ncia de 1858. Se&&o de Peri&dicos da Biblioteca Nacional, RJ. Recenseamento Geral do Brasil, 1872. Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&stica (IBGE), RJ.
. Recenseamento da popula&&o escrava da Prov&ncia do Rio de Janeiro em 1856, presente no Relat&rio de Presidente de Prov&ncia de 1858. Se&&o de Peri&dicos da Biblioteca Nacional, RJ. Recenseamento Geral do Brasil, 1872. Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&stica (IBGE), RJ.
. Entre , foram 63 casamentos endog&micos ou mistos e 10 sem especifica&&o de origem de um ou dos dois c&njuges, o que totaliza 73 entre , os casamentos endog&micos ou mistos chegaram a 15, e aqueles sem especifica&&o de origem de um ou dos dois c&njuges o que corresponde a 23 registros nos anos definidos.
. Cremos que os registros de casamento possam dar uma estimativa sobre os padr&es de organiza&&es das fam&lias nucleares, da mesma forma que os invent&rios post-mortem garantem um olhar mais amplo, chegando &s matrifocais. Aqui, neste estudo, matrifocais s&o vistas a partir da freq&&ncia de ilegitimidade das crian&as batizadas.
. Segundo os registros de batismo, houve uma amplia&&o de crian&as ileg&timas batizadas: entre , foram 27,3% de leg&timos e 72,7% de ileg& entre , 9,6% de leg&timos contra 90,4% de ileg&timos. Livro de Registros de Batismo de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo, Angra dos Reis, RJ.
. Os padrinhos e madrinhas escravos passaram de, respectivamente, 35,0% e 44,8%, entre , para 59,3% e 77,6% entre . Livro de Batismos de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo, Angra dos Reis, RJ.
. Isso significa dizer que a amostragem vai al&m de 1871, chegando ao ano de 1881, devido & utiliza&&o dos invent&rios.
. N&o foram contadas 80 m&es com origens desconhecidas.
. Livro de Registros de Batismos de Escravos da Freguesia de Mambucaba,
e Livro de Registros de Casamento de Escravos da Freguesia de Mambucaba, . Convento do Carmo, Angra dos Reis, RJ.
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